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A Cracolândia e a escola

Cracolândia

Paulo Leme Filho 

Advogado, escritor e fundador do Movimento Vale a Pena

 

De modo mais do que justificado, a mídia periodicamente tem abordado o trágico problema da dependência química – ganhando destaque, principalmente na cidade de São Paulo, a região que se convencionou chamar de Cracolândia.

Os fracassos em série que dia a dia se observam, seja qual for o governante de plantão, têm várias explicações, mas, a meu ver, há um aspecto que tem sido deixado de lado: o papel da educação. Tome-se como exemplo o próprio caso da Cracolândia.

Estima-se que a região concentre, no momento, algo entre 400 e 600 pessoas. No entanto, dados oficiais informam que, na média, são feitas, por dia, 12 internações e 5 prisões. Por essa dinâmica, não seriam necessários mais do que 2 meses para a Cracolândia, por assim dizer, “acabar” (como insiste em dizer certo ex-prefeito). O fato é que, infelizmente, a Cracolândia, assim como a dependência química em geral, é uma fila em que sai um e entram dez.

Sem prejuízo da assistência digna (e eficaz) aos doentes que lá estão, é preciso parar de enxugar gelo e evitar que as pessoas cheguem ao triste estágio final da dependência química. Passou da hora de se implementar o estudo sobre a dependência química como matéria obrigatória do currículo escolar, ao menos no ensino médio.

Não me refiro a abordar o tema uma vez ou outra, quando algum voluntário abnegado se dispõe a ajudar. Refiro-me, isto sim, a abordar o assunto como uma matéria específica e obrigatória, ministrada de maneira constante e cuja absorção, pelos alunos, seria cobrada exatamente igual ao que se faz com as demais disciplinas. Pesquisas relacionadas, por exemplo, à educação financeira demonstram ser desprezível a absorção, pelos alunos, de palestras ministradas com periodicidade bissexta, ao passo de que, se ministrados os mesmos conceitos ao longo do curso escolar, o aprendizado tem bem mais chances de acontecer.

Naturalmente, os professores precisarão ser capacitados para tal – e, certamente, não faltarão profissionais da área da saúde pública e da pedagogia, inclusive pertencentes a entidades do terceiro setor ou universidades, aptos a prestar essa capacitação mediante a celebração de convênios com o Poder Público.

Não é o caso de fazer pregações de ordem moral ou religiosa – ou de transferir responsabilidades. Trata-se, apenas, de repassar informações – cumprindo a cada estudante decidir o que fará com elas no curso de sua vida.

E, para quem acha que o assunto é inconveniente, lembro que a doença do alcoolismo é parte essencial desse contexto – sendo que, na média, o jovem brasileiro inicia o contato com essa droga aos 12 anos de idade.

Há não muito tempo, falar de educação sexual em escolas era tabu – e foi necessário o advento de uma epidemia mortal para que algo mudasse.

Aqui, não há soluções mágicas, espetaculosas ou rápidas. Mas o primeiro passo para resolver um problema sempre é admitir que ele existe, de preferência o mais cedo possível.

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