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Aplicativo para celular localiza locais de apoio para dependentes de álcool e drogas

Aplicativo para celular localiza locais de apoio para dependentes de álcool e drogasO advogado Paulo Leme Filho decidiu usar sua própria história de enfrentamento e vitória para auxiliar outras pessoas que lidam com o problema. Afastado do consumo do álcool há 21 anos, ele patrocinou a criação de um aplicativo, que pode ser usado em celulares com tecnologia Android ou iOS. O sistema é gratuito e não pede dados do usuário, apenas o CEP, para que possa indicar o local mais próximo em um cadastro de 5.000 pontos de atendimento no estado de São Paulo.

Além do aplicativo #EuMeImporto, criou o Movimento Vale a Pena, que desenvolve ações direcionadas para a prevenção da dependência e escreveu dois livros: “A doença do alcoolismo”, em parceria com o pai, também ex-usuário do álcool, e “Vai Valer a Pena, que conta sua trajetória pessoal com a dependência.

Confira a entrevista com Paulo Leme Filho:

Como começou a sua história com o álcool?

Comecei a beber na juventude, com uns 15 anos mais ou menos. Na época era pela farra, matava aula com os amigos para beber. Durante muito tempo eu bebi sem deixar de cumprir com as minhas obrigações: me formei no ensino médio, ingressei em uma faculdade pública e consegui um bom emprego. Eu digo que a dependência é progressiva e lenta: quando eu menos esperava eu perdi o controle da minha vida. Passei a ter dificuldade de fazer as coisas, perdi o emprego e parei a faculdade. Minha vida se resumia a beber.

Você já tinha o histórico de dependência em casa, com o seu pai (o médico Paulo de Abreu Leme, abstêmio há 30 anos). Isso não te ajudou?

Eu tinha na minha cabeça a imagem do meu pai na fase final do alcoolismo. Depois de ter ficado muito debilitado e perdido grandes oportunidades profissionais ele foi procurar ajuda. Mas eu pensava que comigo era diferente. Quando ele ou minha mãe me alertavam eu dizia que era injusto que os pecados dele recaíssem sobre mim. Eu não me ­enxergava como doente. No entanto, no processo de recuperação a convivência com ele foi muito importante, pois uma coisa é saber que o vício tem cura e outra coisa era ter testemunhado esse processo.

Quais foram os maiores problemas que a dependência te trouxe?

Desemprego, problemas de relacionamento, com a convivência familiar… a dependência mata a pessoas aos poucos. E quem está no vício tem uma interpretação distorcida da realidade. Na minha ótica eu sai da faculdade porque ela não estava boa. Perdi o emprego, mas ele era ruim. Eu sempre encontrava uma justificativa para meus atos e ela nunca era o meu vício.

Escrever os livros foi uma forma de tentar ajudar outras pessoas que passam por esse problema?

Sim. Quando parei consegui retomar a minha vida, mas fiquei reservado com relação a abrir o anonimato por medo do preconceito e da desconfiança em relação ao meu trabalho. Só notei a necessidade de compartilhar minha história e ajudar outras pessoas quando meus filhos nasceram. Eu ia levar eles até a escola e via todas aquelas crianças e pensava quantas iriam ter contato com o álcool e desenvolver a dependência. Eu sempre digo que meus filhos mudaram minha forma de enxergar a vida. Entendi que compartilhar minha experiência podia ser útil e escrevi o primeiro livro.

A partir dali comecei a ser chamado para dar palestras em escolas e a receptividade dos adolescentes foi incrível. Acho que porque ali eu estava de peito aberto, sem ter o objetivo de dar uma lição de moral ou pregar uma ­religiosidade.

Foi a partir daí que surgiu a ONG Movimento Vale a Pena e o aplicativo para ajudar quem precisa de ajuda?  

Exatamente. Após as palestras era muito comum as pessoas me perguntarem de locais que oferecessem suporte para os dependentes e familiares que enfrentavam esse problema e era difícil ter esses endereços de prontidão. O aplicativo – gratuito e disponível para download nas plataformas android ou IOS – veio para suprir essa lacuna. Conectar os grupos que trabalham com essa temática com quem precisa de ajuda. Muitas vezes esses grupos funcionam em salas pequenas ou nos fundos de igrejas e não são tão divulgados. Muitos trabalham ainda com os familiares dessas pessoas, que sofrem e por vergonha não têm com quem conversar.

Que mensagem você deixaria para quem enfrenta esse problema?

A dependência é dramática e quando estamos no olho do furacão não temos noção da realidade e nem perspectiva de saída. É preciso lembrar que muitas pessoas enfrentam esse problema, que ele é tratável e é possível superar. Precisamos falar abertamente disso, pois quanto mais admitimos que esse problema existe, mais trabalhamos para que ele se resolva.

(Entrevista publicada no Diário do Litoral)

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