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Escritor se inspira no Espiritismo para abordar dependência química e saúde mental de adolescentes

O Bonequinho de Paulo Leme Filho aborda ansiedade e alcoolismo entre jovens

Em “O Bonequinho”, Paulo Leme Filho, dependente químico em abstinência há 27 anos, chama a atenção para glamourização de comportamentos que propiciam o sofrimento mental

 

O Bonequinho, uma abordagem espirita sobre dependência química e sua prevenção obra de Paulo Leme Filho.

O Bonequinho, obra de Paulo Leme Filho. (Divulgação)

 

A união da experiência de participar de grupos de apoio como Alcoólicos e Narcóticos Anônimos com os princípios da Doutrina Espírita resultaram no mais novo livro do advogado e escritor Paulo Leme Filho, “O Bonequinho”, que chega agora às livrarias e sites pela Scortecci Editora. O lançamento acontece no dia 7 de dezembro, às 19h30, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, em São Paulo. Os valores arrecadados com a venda dos exemplares serão destinados à Federação Espírita do Estado de Goiás,  onde o autor mantém laços de amizade com trabalhadores de diferentes centros espíritas.

 

Glamorização do álcool

Em “O Bonequinho”, o autor se utiliza das ferramentas que mais marcaram sua vida para superar suas maiores dificuldades: a experiência advinda da frequência a grupos como os de Alcoólicos e Narcóticos anônimos, aliada ao estudo da Doutrina Espírita.  Com grande talento, aborda a questão das drogas, incluindo o álcool, de forma, clara, objetiva e convidativa para a leitura, propondo diversas reflexões aos leitores, sobretudo sobre ações de prevenção, não somente do uso de drogas, mas de depressão, bullying, automutilação e suicídio, em especial entre os mais jovens.

Paulo Leme Filho | O Bonequinho

Paulo Leme Filho, advogado e escritor

“Há uma glamourização sofisticada ornamentando a publicidade do álcool — que mistura sensualidade, liberdade e alegria. É olhar para as propagandas em que uma eterna juventude namora, festeja e, dando graças aos céus, comemora aquelas poucas horas de libertação dos dias anteriores do trabalho em horário comercial, feito por obrigação. Todos queremos ser assim — e é quase consequência necessária do viver que experimentemos bebidas alcoólicas”.

“Acredito que a experiência de quem precisou se encarar em um contexto de dependência química pode ser aproveitado para a superação de outras dificuldades não menos graves, como as que vemos atualmente entre crianças e adolescentes”, ele acrescenta. “

Prossegue o advogado: “No Brasil, entre 2.016 e 2.021, o suicídio aumentou em 45% na faixa entre 10 e 14 anos de idade – e só na cidade de São Paulo, todos os dias, dez jovens de até 19 anos automutilam-se ou tentam acabar com a própria vida (muitas vezes, infelizmente, o conseguindo). É preciso olhar para isso e reconhecer que estamos falhando como sociedade”.

 

Segundo a Doutrina Espírita, o atual momento da Terra é de mundo provas e expiações – que servem justamente para serem superadas.  Há, portanto, uma razão para tudo o que nos acontece. Não é diferente com a dependência química ou qualquer outro problema.

 

Como superar o vício

Paulo Leme mostra também a importância do esforço pessoal para a superação dos vícios.  “Não existe superação sem esforço. E sem confiança no desfecho desse esforço, a tendência é desistir. É preciso, portanto, saber o porquê das coisas e as consequências de se adiar mudanças de comportamentos. A Doutrina Espírita é de excepcional clareza para tratar dessas questões”.

Sobre o título do livro, o autor explica que se trata da “autoimagem” de cada adicto, que vai se modificando na medida em que o uso das drogas vai se intensificando. “Nossa experiência pessoal, acrescida de outras que testemunhamos ao longo de alguns anos de recuperação, nos mostra que, sob a insanidade, ninguém se enxerga do modo em que irá se enxergar quando estiver em abstinência. E aquilo que na abstinência será visto dificilmente irá agradar ao paciente”.

“O segredo”, prossegue, “é saber como desconstruir esse bonequinho”.

O autor observa ainda que “Alcoólicos Anônimos tem um trabalho primoroso em termos de autoconhecimento, o qual, respeitadas as características e possibilidades próprias, pode e deve ser aprimorado para ajudar os jovens, independentemente do abuso de drogas ou álcool”.

 

“A Doença do Alcoolismo”

Em meio a uma sociedade repleta de preconceitos em que todos buscam aparentar segurança, sucesso e felicidade, o autor e seu pai, Paulo de Abreu Leme, lançaram em 2015 o livro “A Doença do Alcoolismo”, onde expunham sua compreensão sobre a doença, mas também suas próprias experiências. Em abstinência, respectivamente desde 1989 e 1996, o livro chamou a atenção pelo ineditismo da situação dos próprios autores, por se tratar de pai e filho.

Ao falecer em 2022, o pai deixou uma mensagem simples e direta: nunca se conformar e jamais ter medo de lutar por aquilo que acredita. Leme Filho acredita que não pode ter medo de contribuir com o que lhe cabe: trazer para o debate público questões que dizem respeito às dificuldades que atingem, em especial os mais jovens com base em sua própria experiência e aprendizado.

 

Alcoolismo, Covid-19 e violência

Em “O Bonequinho”, o autor lembra que o consumo de álcool aumentou nos anos da Covid-19, como estudiosos do assunto e a Organização Mundial da Saúde (OMS). “Curiosamente, a violência contra as mulheres também aumentou durante a pandemia: algo próximo a 50% no Estado de São Paulo — o que não é de surpreender, já que, muito embora pesquisas atribuam metade dos casos de violência doméstica à doença do alcoolismo, as autoridades que pelejam no dia a dia dessa tragédia chegam a falar que de 80% a 90% dos casos têm essa causa. Mais álcool, mais violência contra a mulher”, relata um dos trechos da obra.

 

Dependência química cada vez mais cedo

No Brasil, as crianças se iniciam no hábito de beber, em média, aos 12 anos de idade. O quadro se agrava à medida em que começam a chegar ao mercado drogas como o fentanil e as da chamada “família K” – de potencial viciante superior ao do crack.

“A dependência química não escolhe sexo, idade ou condição financeira ou social. Não é mais um problema isolado, o qual pode se varrido para debaixo de um tapete. Assim como tantos outros problemas, só haverá uma superação quando houver solidariedade por parte de toda a sociedade”, diz o advogado.

Para ele, é igualmente necessário olhar para sofrimento mental dos jovens – imersos, não raro, num mundo irreal de redes sociais. “Não é possível ver com naturalidade o aumento dramático dos casos de bullying, automutilação e suicídios entre crianças e adolescentes. É preciso aproveitar o que o Espiritismo e a recuperação da dependência química têm a nos ensinar para enfrentar esse assunto”, completa.

 

Sobre o autor

Paulo Leme Filho, paulistano de 52 anos, é graduado em Direito pela USP, com MBA em Gestão da Saúde pela FGV-SP. Advogado militante e pai de dois filhos, ele escreveu, junto com seu pai, Paulo de Abreu Leme, o livro “A Doença do Alcoolismo”, lançado em 2015. Em abstinência absoluta de álcool e outras drogas há 27 anos, Paulo se converteu ao espiritismo em março de 2020. Hoje divide seu tempo entre a convivência com os filhos, a atividade profissional, a realização de trabalhos no campo assistencial e o estudo da Doutrina Espírita.

 

“O Bonequinho” – Paulo Leme Filho

Lançamento no dia 7 de dezembro – 19h30

Local: Livraria Cultura – Avenida Paulista, 2073 – Conjunto Nacional – São Paulo

 

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